Celeiro

Euna Britto de Oliveira

Com quantos paus se faz uma canoa?
Com quarenta poesias ou até menos
pode-se fazer um livro.
Eu tenho mais de setecentas e não faço nada!
O que escrevi foi pra nada?...

A sementinha do eucalipto lembra um piãozinho.
Seu código genético, vegetal e mundial, traduz-se assim:
Folhas finas e longas, tronco de bom crescimento,
aromas e resinas... preferida dos coalas...
Sândalo ou escândalo,
para mim, tanto faz! As duas são proparoxítonas.
Costumo buscar na palavra mais o som que o sentido,
mas desconfio que a palavra usa o atrativo do som
pra me entregar o sentido...

Tenho visto tanta salvação,
que me entusiasmo em viver!
Cordas,
escadas,
mãos...
Coisas que descem do céu ou levam até lá,
e estão à minha disposição!...
Viaduto, Via Látea,
por via das dúvidas, via tudo
o meu cão vira-lata!...

É claro que recebo visita dos pássaros!...
A angústia serve, enfim, para alguma coisa.
Não a de Benedito, o que passivamente olhava a casa e esperava sentado
a comida que sua mãe, de 70 anos, trazia,
na maior agilidade do mundo!...

Fazer deve ser a primeira função do ser!
Servir deve ser o mais perfeito gesto de sentir!...

Ai de mim, que sou tão de apreciar, contemplativa!
Essas coisas toscas é o que vos posso dar,
mas houve um tempo em que costurei, pintei, alfabetizei...
E nem me dava conta de que tudo era amostragem.
Pensava que ia ficar fazendo aquilo a vida toda!
A gente aprende, faz, e vai esquecendo, para aprender outras coisas...
A vida passa,
o avião passa,
a gente passa...
Daqui a uns tempos,
nem escrever mais eu poderei ou saberei...
Obrigada, meu Deus, porque hoje escrevo
e isso me equilibra, acalma e gratifica!

“O pior de estar morta não é ser esquecida. É esquecer.” (Ivanir Calado)

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.