Ah, Canto!...

Euna Britto de Oliveira

Não sou cigarra,
mas esse canto me agarra.
Num aprazível recanto,
a casa pequena tem minúscula varanda, portas
e cada janela em diferentes cores...
No meu canto,
a Paz, tão perseguida!...

Eu sou a rosa do prado,
que o gado bravo respeita.
Sou a cidade abandonada
(Chernobil?...)
que a população desertou...
Sou o deserto povoado de sóis,
sem girassóis,
com lençóis de areia,
e vento.
Invento
frio movimento de luas em noites limpas...

Não sei fazer,
sei mandar.
Não sei mandar,
sei mudar...
Não sei fazer nem mandar.
Não sei nem mesmo mudar.

E assim, faço e refaço
mil vezes mil
a mesma volta redonda,
sem nunca aprender a acertar!

Cabelos cortados,
separados do corpo,
não embranquecem nem crescem.
Mil anos para Deus
são como uma nossa fração de segundo.
Cubro-me com lã sintética
porque sou alérgica à lã animal e à vegetal.
Não sei o que pensa a cabeça a dez mil anos-luz de mim...
Pode pensar em princípio e meio.
Enfim...

Belo Horizonte, 2005

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.