A VER NAVIOS

Celeste Aída de Assis Foureaux

E eu fiquei a ver passar
O navio do futuro
Com tanta gente a acenar
Pra mim, parada... No escuro...

Olhando do lado de fora
Eu pude ver descontente
Que todos se foram embora
Deixando-me no presente

A vida passou e eu fiquei
Sentada no escuro a sonhar
E quando eu chegar no futuro
Ninguém mais lá vai estar!

E eu fiquei a ver passar
O navio da esperança
Cheio de gente a chamar
Pra um lugar chamado Bonança.

Só eu não entrei no navio!
Fiquei tristonha a pensar
Por que só eu não entrava
E conquistava um lugar?

Mas não fui e de repente,
Percebi nunca alcançar
Lugar ao sol tão fremente
No navio... Para além mar...

E eu fiquei a ver passar
O navio para a vida
Que passou a me mostrar
Que ela tem que ser vivida...

Não tive coragem de entrar
Ao menos, naquele navio...
Fiquei curtindo o meu mar
De quimeras... Por um fio.

Por um fio, ficou minha alma,
Por eu não me manifestar,
Aflorou-se em minha palma
Dando mostras de chorar!

E eu fiquei a ver passar
O navio da bondade
E almas brancas a chamar
Para ir ver a felicidade...

Felicidade é ali na frente
Vinham todas me chamar
Mas eu fiquei pertencente
Àquele chão, fixando o mar...

Passou a vida e eu fiquei
Do mesmo jeito a esperar
Se aquele navio não volta...
Não vou a nenhum lugar!

Celeste
novembro/92

Envie este Poema

De: Nome: E-mail:
Para: Nome: E-mail:
Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.