QUERO GRITAR – RESPOSTA AO TEU LAMENTO

Celeste Aída de Assis Fourreaux e Lenita

Quero gritar
Por tanta coisa errada...
Um grito que não sai
E eu aqui, parada...
A pensar em tudo aquilo
Que se reprimiu.
Quando o “Amor” veio ao mundo
Falou, chamou e ninguém ouviu...
Quero que ouçam meu grito,
Aquele, da paz ainda não chegada,
Ou, da ternura nunca antes alcançada.
O da esperança que não se consumiu,
Ou o do adeus de quem nunca partiu.
Aquele grito da anormalidade
Que pode estremecer a humanidade!
Quero gritar,
Mas minha voz é rouca...
Penso em gritar
Mas por que, se não sou louca?
Tento gritar,
Mas minha força é pouca.
Grite por mim alguém
Pra me ajudar...
Não há ninguém... Então...
Grito com a alma!
Porque assim, Deus me ouve,
Entende e me acalma.
Empresta-me Sua voz
E vira o céu, terra, mar,
Tira tudo do lugar!
Então a paz do céu
Sobre a terra vem pairar.
Mas só se a voz
Meu Pai me emprestar!


Celeste
janeiro/91

E recebi de imediato, uma resposta assim:


RESPOSTA AO TEU LAMENTO


Queres gritar? Então que seja agora!
Que seja esta a hora; o teu momento.
Que se aproveite o espaço que a ti se afigura
Pra viver, apesar da dor que do teu peito aflora

Não queiras que só a mágoa te contente
Esse doído peito implode e te amargura
Ponhas para fora a essência dessa dor que é quente
Ainda que o câncer do lamento aguarde a cura.

Mas mesmo que te pareça impossível a chegada desse dia,
Cuida pra que não morra, na espera, a poesia

Teu grito é necessário. É força interna
Espelha o que te vai nessa alma em chama
Se se fecha tua boca, pode causar a pausa eterna
Escurecer a luz do dia e apagar do peito a flama
Tua lágrima será sempre a mancha indescritível
Tua muda voz a oração nunca rezada
Se te calares tua dor será imperecível
Grita! O silêncio é qual centelha nunca disparada.

Mas se apesar do grito ainda te bate a melancolia
Cuida, assim mesmo, para que não morra a poesia.


Lenita
29/01/91

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.