MIMETISMO

Celeste Aída de Assis Foureaux

Ao olhar o vidro suado
pelo vapor do banho da "tristeza"
vi uma figura de ar desconfiado...
Um perfeito coração a escorrer beleza!
Mergulhei no seu mundo a observar
como vazava seu lindo conteúdo
e porque se desmanchava em choro, sem falar.
–De onde veio este pobre coitado?–
E tentando sempre me aproximar,
perguntei se era um coração magoado.
E ele, numa estrondosa gargalhada:
— Nem coração, nem magoado, nem coitado!
Eu saí da sua mente maltratada
que derrama como eu, só que pobreza...
Não sabe viver, nem melhorar a vida.
O meu nome é "Devaneio", querida!
E, parecendo entender meu sofrimento,
disse: —Posso abrir esta nuvem de tristeza
e num instante tirar você daí de dentro.
E as gotas se movendo fizeram uma risada
de um gato a pensar em sua presa.
Pardo como os de todas as noites, isso eu sei!
Se tinha olhos verdes... não discutirei.
Agora, inteiro e com passadas malandras,
espreguiçando, me fez imaginar que dormia
estatelado nas cadeiras das varandas
de velhas casas onde também comia
e caía no mundo novamente
a mexer com o pensar da gente.
Voltei a mim sentada no banco do banheiro.
Que loucura, que sustos, que medos!
Talvez tenha ficado um dia inteiro.
Chorei ao sentir fraquezas e lembrar segredos.
Agora, o "Devaneio" mudou tudo; eu já sorria
e o banho que acabava era o da "alegria"
que eu ajudei a secar e agasalhar;
mas ainda via o pobre gato a se desmanchar,
com seus dentes falhados a me fazer rir...
acenei para o "Devaneio" que se ia
e agradeci emocionada ao descobrir
que ele veio me tirar da letargia.

Maga 31/05/2004

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celestemag@yahoo.com.br

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.