BORBOLETA VERDE

Aldo Brandão

Estou quase convencido
das coisas que o dizer não toca.
Mesmo poesia,
esse arremedo adâmico
que o paraíso evoca:
Nada. Tudo
é vôo rasante, desafiando a idéia.
Assim é o meu querer...
Um quase platonismo.
Não fosse o quase,
das duas,
uma:
anamnese ou padecimento
no limbo das palavras.

Dia desses vi a borboleta...
Inquieta e solta
em redor da corola azul
da abóbada celeste
Agora, dada a estranhezas,
tentava com seus tentáculos
sugar-me significados
de significantes profundezas

Pairando sobre minha língua
ameaçava despetalar
o que, na verdade,
já era pétala decaída.
Seus dentes na minha carne:
enganos, sombras, pactos, sinas
verdades interconexas
ao eixo
do ventilador do tempo.
Suas asas verdes,
porque verdes assim as via,
sacudiam-me ao vento
arrebatando-me
as veias e as vias
de fatos
inexplicáveis
ou quase.

Um quase amor
ou apenas quimera
ou simulacro de
uma flor possível...
Seu corpo por sobre o meu.
Antenas e gigantescos olhos,
seu ouvido inútil,
sua pata suja de pólen:
quanto mais sorvia o néctar
tanto mais se refazia o fluxo.

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.