Recordação

Euna Britto de Oliveira

Sem saudosismo!
Nem uma foto nos ficou,
de todo o gado que foi nosso.
Não tirávamos fotos do gado.
Das vacas, Ruas e Gerônimo tiravam leite...
Vacas leiteiras,
solteiras, novilhas,
marruás, garrotes, bezerros...
Cada um com seu próprio nome.
Gado de cores claras, de cores várias...
Animais de montaria,
cavalos, éguas, burros, jumentos...

Nem uma única folha se guardou
das árvores que dominavam
a fazenda que foi nossa.
Nem de lembrança, uma pedra do rio
que banhou nossos corpos muito jovens!...

Ficou o retrato da casa.
Da casa que surgiu de nossa idéia,
e que não é mais nossa.

Vendida de porteira fechada,
não é possível
que aquela fazenda
não se lembre de nós!...

Do nosso tempo,
ave nenhuma mais vive...
São passados trinta anos.

Comi o peixe encantado,
ganhei de presente uma cidade,
meus pecados antigos foram todos perdoados,
eu não sou outra pessoa
e sou.
Mais velha,
mais calma,
mais séria.
Mais cautelosa.
Já o rio Mucuri
não é mais tão caudaloso!...

Belo Horizonte, 27/07/91.

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.