Desafio

Euna Britto de Oliveira

Os mercadores de plantas vendiam asplênio,
begônias, bromélias...
Disseram-me, não eles,
que brilhantina dá azar, arranquei-a.
Agora, falam que serve para chá, replanto-a.
A flor da felicidade existe, mas,
como aquela que lhe dá o nome,
exige um clima...
Por cima de tudo, a menina,
que ainda quer cama bonita
e colcha em composê com babados,
um par de belas cortinas, telas pintadas,
bichinhos de pelúcia da feira hippie,
música de outros pianos,
a eterna boneca vestida de cetim rosa e renda...

A moça morta, a mosca morta,
a tribo tupi falando uma língua geral,
a fada sem fala e a rapidez de Helena,
que enfeita a janela do sótão
e pela fresta da cortina escolhe o marido,
a placa do carro,
o filme que quer ver de novo e fala de navios,
a margarida pequena e o melhor dos assobios!...

No meu ninho de almofadas, durmo,
assisto a programas de televisão,
telefono, leio, rezo,
escrevo e penso...
Ao escrever, vou-me valendo do que tenho: lembranças, vivências...
Deixo uns versos para trás, sim.
Os pescadores também deixam uns peixes para trás,
desperdiçados na areia...
Das árvores também caem frutos que nasceram para ninguém...
É a fartura de Deus!!!...
A sobra do que se consegue aproveitar...
Nunca chegarei a aproveitar tudo que já escrevi, em tantas ocasiões,
em surtos de inspirações,
em toda sorte de papéis!...
Nunca conseguirei nem mesmo reler tudo!
Muita coisa se perderá, por ter se tornado ilegível, ininteligível,
por ter perdido o sentido...

Permitirei que me desamem,
mas não permitirei que me desanimem!

Em cima da árvore, uma flor começa a desabrochar,
em cima da cama, uma vida principia,
em cima de mim, uma pesada emoção
fardada de alumínio, um fardo!
O essencial não é o depois,
nem o antes,
é o agora! Ele é que faz os outros dois!...
Respiro fundo!...
A folha pesa, o lápis cai da minha mão
e rola no chão...
Como durmo bem!

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.