Densidade Zero

Euna Britto de Oliveira

Entre a vida e a morte não existe uma ponte,
nem mesmo um ponto existe,
vida e morte são ato contínuo de uma mesma eternidade...
Porque se for para morrer agora, eu morro e continuo vivendo...
Se é para viver agora, eu vivo, ainda que algumas vezes morrendo...

Eterna é uma palavra que me agrada.
Não-violenta, consoladora,
cheia de promessas, plena de libertação, é terna.
Quando me dizem: —“A vida é curta”,
eu repenso: – A vida é eterna!...

Onde está Machado de Assis e o que é que ele anda aprontando?
E meu pai? E minha mãe? E as outras, e os outros todos,
onde estão?
Esse costume que Deus tem de inventar modas e modos,
ou de não inventar e deixar sempre as mesmas leis...
Essas mágicas que Ele realiza de fazer aparecer e desaparecer
e de novo aparecer!!!...
As coisas que Ele me esconde me põem curiosíssima e zonza!...
Esse gosto de Deus em fazer mundos
me deixa cheia de gostos e desgostos.
Prazeroso, Ele me fez com sentimentos e quer que eu seja feliz.
Deve haver um jeito!
Fica me olhando, vendo-me retorcer e me contorcer...
Quando preciso, ajuda. Está ajudando sempre!...
E pacientemente espera, com sua certeza de Criador,
que eu acerte o passo.

Sou um brinquedo de Deus.
Se Ele me dá corda, eu acordo, funciono, enfeito-me,
faço gracinhas e piruetas pra Ele,
evito tristezas, levito...
Brinco de olhar sério nos olhos d´Ele , sem piscar!!!...

Envia-me fagulhas do seu Espírito e eu faço abstratos malabarismos...
Então, Ele ri satisfeito e às vezes me aplaude!
A repercussão de suas palmas é a minha sonora felicidade!!!...
O que sei é que preciso e precisarei sempre, “per saecula seculorum”,
do toque, do retoque, do reboque de quem só por amor me criou...
O sentimento aperta, aperta o cerco, eu aperto o cinto.
Mais um dia da mesma viagem!...
Até aqui, chuva, estiagem, aragem, queimadas na serra,
“pesque e pague”, peixe frito,
“peque e pague”, ouço um grito,
curvas perigosas, campo minado,
flores do campo, bagagem...

Viver é surfar no mistério...

“Entre a vida e a morte existe uma ponte.”
(Machado de Assis)
Betim, 1999.

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.