Ouro quase Preto

Os sinos não calam,
as rosas não falam,
mas as pedras ralam!...

Um vendedor de quebra-cabeças, Pardal,
tira um cisco do meu olho
na escadaria da Igreja de São Francisco,
em Ouro Preto.
Muito me divertiu com suas mágicas
em aparelhinhos de arame!
Tirou ciscos de minha alma!...

Pombos em profusão
acinzentam
e movimentam
o pátio da Igreja
de Nossa Senhora da Conceição...
Dona Eli e o Sr.Osvaldo Amorim e Família,
no Bairro Antônio Dias,
morando a vida inteira juntinho da igreja,
na barra da saia de Nossa Senhora da Conceição,
na barra da saia da igreja,
se igreja tivesse saia!...
Sou-lhes muito grata,
e eles sabem por quê!...
Isso mesmo!
Por causa do carinho,
por causa da atenção
que dedicaram à minha filha,
durante o tempo
em que ela estudou longe de casa,
em Outro Preto!...
Um carinho e uma atenção
que estão sempre de plantão!!!
Que nunca saiam dali!...
Por causa da proteção
que exala dos poros
daquela igreja de homens!!!...
Quero-os sempre muito protegidos!!!...

No fundo do tempo,
as noivas de todas as igrejas
de Ouro Preto
já desfilaram,
envelheceram,
deixaram descendência...
E agora
dormem
um
sono
profundo!...

Por pouco não escorrego,
quase deslizo
numa das ladeiras
de Ouro Preto...

—"Dona! Ô Dona! Me dá uma ajuda!"
Não dou ajuda em dinheiro,
pegou-me desprevenida.
Mas faço um carinho em seu rosto,
fustigado pelos chicotes da vida!...
—"A gente conhece quem tem bom coração", diz ela.

Meu coração,
ainda há pouco arrasado,
pelo poder de uma palavra,
logo ficou restaurado!
Por outro
dos mil poderes
de que uma palavra dispõe!...

Deus está nas ruas de Ouro Preto!
Deus está em toda parte!...
Deus está comigo!...
Falou-me, pela boca da mendiga!

Quantas vezes Cristo bateu à nossa porta,
disfarçado em mendigo?
Já perdi a conta!!!...
Nesses momentos,
costuma nos fazer revelações!...

Cristo disfarçado em mendigo...
Quantas e quantas lições!!!...
Quantas Consolações!...
E Salvações!

Ouro pode ser pobre...
Ouro pode ser preto, branco, vermelho, amarelo...
Às vezes, o que parece ser
não é.
Outras vezes,
o que não parece ser é que é!