Lavanderia

Euna Britto de Oliveira

Dor granulada enche meus pulmões...
Varais vazios.
Peças de uns quebra-cabeças,
imposto de renda,
presidente deposto.
Duas ufológicas bacias,
a paz e a razão de Dona Almezina,
muito consagrada a Deus,
há vinte e cinco anos lavando nossa roupa
e principalmente nos transmitindo serenidade,
ensinando iniciativa, paciência,
“porque as coisas de Deus são devagar!...”
E a Sabedoria
que ela recebe cá embaixo, mas vem de cima!...

Ai de quem perdeu a razão
e ficou cego, surdo e mudo!...

A árvore da paciência
demorou mil anos para soltar as primeiras folhas...
Nasceu de uma semente vinda do fim do mundo!
Tronco robusto e folhas miúdas,
mínimas como as do tamboril,
debaixo dessa árvore,
as crianças brincam de roda...
Eu gostaria de estar escrevendo histórias para crianças,
mas meu ramo é outro, escrevo para adultos.

O sol está quente,
a noite é dentro da minha alma...
Com meneios de cabeça,
Deus censura os homens e pede calma!
Às horas e aos acontecimentos, Ele diz:
— “Ainda não!”
— “Não era pra ser desse jeito!...”

A tonsura do padre deixou marca para sempre,
bem em seu chakra coronário!
Esse véu atrás do qual se escondem as coisas...
Meus pés que insistem em se cruzar...
Ociosamente, gasto as férias!
Ou ansiosamente?...

A minha moleira terá demorado a se fechar?...
Ninguém pra me responder!
Quem poderia me dizer não está mais aqui.

Belo Horizonte, 01/01/1985

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.