Mordida

Euna Britto de Oliveira

Mordo a ponta do meu dedo mínimo
à altura de uma falange,
e o que sinto me constrange...
Pequenina tortura,
porque dói,
e prazer,
porque cede sob a pressão dos dentes,
parece borracha, chicletes,
parece o bico do peito da mãe,
que se morde,
antes do desmame...

Serrilhados, os dentes da moenda
acionam o mecanismo
de desmanche da cana caiana,
em cuja touceira se esconde a cobra cainana...

Todos nós também vamos nos desmanchar um dia...
Não teremos mais perfil,
nem pressa,
nem sombra,
nem refil...
Nossos registros na areia se desmancharão...
Só os escritos na pedra hão de permanecer,
apesar das rasuras e das censuras...

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.