Desapego...

Euna Britto de Oliveira

— “O desapego é a coisa melhor do mundo, minha filha!”
Diz-me, clarissa e franciscana, a Irmã Virgília.
— Eu sei disto, Irmã, mas muitas vezes me esqueço...

Aqueço em banho-maria a música do piano abandonado...
Minha música requintada é requentada.
Apraz-me ouvir a guitarra espanhola
E os ritmos ciganos...

Não devo perder o prazo!
Dirijo-me à igreja que erigiram sobre um morro,
Em Belo Horizonte,
A de Santa Ermelinda,
E lá também eu rezo...

A letra C sobre o certo,
Sobre os erros, um traço,
Risco-os do mapa.
Faço uma cancela com um X,
Para que os erros não passem!...

Para viver, não preciso de muito.
As sobras escravizam, responsabilizam!
As faltas penalizam, paralisam!
Apenas o necessário
E o dificílimo ponto de equilíbrio
Em que reside o ideal!

A arte de escolher inclui a arte de encolher.
Retraio-me,
Subtraio-me,
Aprendo com os contorcionistas,
Reconcilio-me com os ascetas,
Informo-me com os profetas,
Confesso a fé que professo...

Vidrados, vitrificados,
Os olhos maduros da morte,
Os olhos mais duros da sorte!...

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BH, 2002

Ilustração: A Sagrada Família em fuga para o Egito -
Nossa Senhora do Desterro
Igreja de Santa Ermelinda - BH

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.