Gratidão

Euna Britto de Oliveira

Não podia estar aqui meu Pai?
Suavemente balança a meu lado, com sua franja de renda, vazia,
a rede que me foi vendida pelo pai de uma estudante de Medicina,
do Nordeste.
Ele me falou da filha, do vestibular bem sucedido,
como meu pai falaria de mim:
Com o maior amor, com o maior orgulho!

Eh, Deus Pai!
Quantas cópias tuas por aqui, hein?
Por que te recolheste na tua versão mais próxima,
naquela que era mais minha?...
Se estivesse aqui, ele estaria suando...
Porque gostava de trabalhar, de se movimentar,
de se gastar, sob o calor do sol!
Gostava do clima quente, gostava de gente!
Se estivesse aqui, em algum momento comentaríamos sobre a vida,
porque ele era humano, comunicativo, sensível, bem informado,
e esse, um tema recorrente em nossas conversas.
Ele falaria sobre o dedo de Deus, sobre a justiça divina e a divina providência,
exemplificando cada um desses itens...
“Quando Deus quer fazer, não tem jeito! Ele faz mesmo!”
Dizia ele, pois era um homem de fé,
acreditava nessa força poderosa que organiza o universo
e mantém tudo e todos sob controle e em ordem.
Tão resolvido e despachado!...
Só não era mais sábio porque era afobado, “pra ontem”!...
(Tive a quem puxar!...)

Como uma bênção, chamando-me à realidade,
aparece, saltitando entre uma rede e outra,
com seus olhos azuis de princesa e sua voz angelical, Laurinha,
filha de uma de minhas filhas,
bisneta de meu Pai, que ele não chegou a conhecer.
Deus dá, Deus tira, Deus põe, Deus dispõe, Deus repõe...
Que o diga Jó, depois que recebeu os seus dobros, de tudo que perdeu...

Não me falta nada, sobra azul no céu,
tinta na caneta, branco no papel...
Descansa em paz, meu Pai!
Obrigada por tudo: pela vida, pelo abrigo, pelo estudo...


Em vez de estar nessa rede,
que Deus te balance nos braços e te reconforte,
com a mesma voz com que Ele fala aos anjos...
Eu já desconfiava... mas agora estou certa,
tu és um deles!...

Meu Pai do céu que esteve na terra,
tu podes ler o que escrevo?
Suponho que sim,
sinto a paz dentro de mim.
A bênção, Pai, como antigamente...
Ninguém fica pra semente!
Não era isso que dizias?...

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.