Transparência

Euna Britto de Oliveira

—"A poesia é vã, não leva a nada!”
Foi o que alguém me disse,
com ares de quem legisla!...
Por que faço poesia?
Para chegar ao nada,
ao provisório nada.
Porque daí a pouco vem o tudo,
que nenhum estudo abarca...

Sensibilidade demais é dom ou é dor?
O retrato da minha primeira filha nascendo
fica no cofre,
e poucos olhos viram.
Nele, estou morrendo de dor,
com pose de quem não está...
Um passador azul-anil no cabelo,
roupa branca, da Maternidade,
o pai da minha filha ao lado,
uma enfermeira suíça, Gertrudes,
Maternité Cantonale de Génève...

Na mente,
fora da foto,
visível só para mim,
o registro da lembrança de outras mulheres próximas,
com pouca, total ou nenhuma dilatação!...
Gemendo, sorrindo,
ou, enquanto esperam a dor,
enquanto esperam a hora,
trocando palavras em línguas neo-latinas...

Barrancos brancos, de neve, encostas,
carrancas em bancos de igrejas medievais,
bandeiras de todas as cores,
colorida é a dor em que viajo...
Nada no corpo,
marcas na alma,
credenciais,
inconfidências mineiras,
a solidão dos loucos,
e a pouca fala nas salas,
onde nem voz de televisão se ouve.
Desolação não tem lei,
nem rei.

Se a inspiração me chegasse em forma de música,
haveria, no máximo,
mais musicalidade no que escrevo,
nunca, maior sinceridade!

Envie este Poema

De: Nome: E-mail:
Para: Nome: E-mail:
Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.