Ai que canseira!...

Ai que canseira!
Um cansaço inexplicável
Sem haver feito esforço
A não ser o de respirar, alimentar
Viajar na nave Terra em poltrona confortável
Cansaço de não haver feito nada
Fomos programados para agir, mexer, correr
Brincar de pique-esconde com as dificuldades
Algumas motivadoras
Outras tão feias quanto a necessidade
Todas desafiadoras
Ausência de voz de comando
A não ser a da consciência
A brutalidade das horas paradas
O presente sem querer virar passado
O futuro sem querer virar presente
Os pés descalços ou calçados
E os passos sem cadência e sem compasso
O Peru inteirinho para ser visitado
E quem disse que quero ir lá?
Falta de ar nas alturas não é comigo!
Mais uma vez olho o meu umbigo
O médico que o cortou na fazenda em que nasci
Era jovem e se chamava Nelson
Fui o primeiro parto da vida dele
Enquanto esperava a hora ele estudava
É só isto que sei dele, o que minha mãe me contou
Não dei trabalho para ele.
Não costumo dar grande trabalho para as pessoas
Mas dou muito trabalho para mim mesma
Para saber o que faço comigo!
Não sou boa em administração
Ainda bem que tenho umas sementes e grãos de trigo
E de plantar eu gosto
Vou semear!...
Ai como gosto de gente!
A vida surpreende a gente
Vou me aprontar!...

Euna Britto de Oliveira
BH, 24 /07 /2019