Deriva
Euna Britto de Oliveira
A praia tonta de ondas
e o barco a velas...
Por causa de algumas caravelas estamos aqui.
Quantas gamelas de ouro compõem o meu tesouro?
Os meus amigos ocupariam quantos camelos?...
Há coisas que nunca poderiam ser minhas,
porque nunca consentiria em possuí-las...
Sou ótima em afastamento!
Às vezes, afasto-me tanto, que fico até com vergonha!
Mas não é por ruindade, é por legítima defesa.
Como se eu fosse de açúcar e viesse chuva!...
Protejo-me.
Posição, exposição, reposição...
Incômodo exercício!
Mas é só exercitando que se treina a vida.
A morte é quando a vida desiste.
Ao redor de mim, tudo insiste!
Vale a pena viver!
Eu bebo a taça de fel, mas regurgito.
Meu coração é atingido por flechas de fogo,
e queima, e dói...
Quem mandou não ser de ferro?...
Para que se recupere, faço com ele poesia.
Tenho muita consideração para com meu coração,
porque ele é bom.
Conheço as cores do arco-íris e me visto com elas.
Trevas, só se for para iluminá-las, para eliminá-las...
A solidão da minha viuvez me confere solidez.
Uma andorinha pousa no fio da rede elétrica, é meio-dia,
o Anjo do Senhor anuncia a Maria...
A luz é um grande bem!
Mais que a luz elétrica,
a luz que nos vem desse Amém!...
Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.