Palavra
Euna Britto de Oliveira
Palavra é bem de consumo.
Chega um tempo em que não há mais o que falar, nem o que escrever, porque as palavras foram roubadas,
silenciadas, substituídas por outras, de outras origens, e fica o dito pelo não dito, e o não dito por dito.
Pelo menos, o que foi dito foi bem dito, foi gravado, é bendito!
O que não foi dito, foi adivinhado, porque nem só com palavras se fala.
Com o corpo também se fala. (O Corpo Fala - livro de Pierre Weil).
Fala com gestos, atitudes, presenças, ausências, atenções, desatenções, expressões fisionômicas,
apreciações, depreciações, curtições, intolerâncias, lembranças, esquecimentos, procuras, fugas,
distanciamentos, aproximações...
Enfim, o ser humano se revela quando quer, e acaba se revelando,
ainda que tardiamente, mesmo quando não quer se revelar...
O que caiu no subconsciente, caiu. O que não caiu, não cai mais.
Ou talvez caia, não sei.
A gente cai tantas vezes ao chão!...
O subconsciente é o chão para as quedas do coração!...
É o chão para as muitas sementes, para as muitas palavras!...
Há o tempo de semear e o tempo de colher!...
O que terei semeado?... Em que terreno?...
O que estarei colhendo?...
Viver para ver! Com olhos que já sorriram e choraram, e hão de serenar!...
Um braço poderoso nos governa, e deixa seguir... ou não deixa.
Seguir o sonho...
Sonhar é acreditar.
Seguir é não desistir.
Não desistir do sonho!
O sonho é lavra de palavras.
Aquele que sonha, volta a ter voz e palavras!...
Toda mudez é desterrada,
Toda nudez é consagrada,
Toda palavra é reavaliada,
E nenhuma ofensa é retaliada.
Tudo, tudo é perdoado.
Ou não se sonha mais nada!...
Palavra!
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Belo Horizonte, 26/09/2012
Ilustração: da internet
Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.