Relógio

Euna Britto de Oliveira

Um avião sem barulho
corta minha noite sem estrelas.
Todo avião que vejo passar,
ajudo um pouco a voar...
Torço por eles!
Amo os aviões, as aves raras
e os bons ladrões,
os que só roubam corações...

Gloriosas nuvens,
de chumbo,
quilombos, quilômetros,
quilos de neve e fome,
madrugadas brancas,
paredes descascadas
que a unha da criança cavaca
sem sentir gastura...
Quem gastou o tempo,
quem surdou os tímpanos,
quem naufragou a aventura?...
Se eu pudesse colar fogo no pavio
das velas brancas,
não nas dos navios,
fotografaria a sede que me consome
e se esconde na escuridão,
pra ser diluída no tempo
que relógios adiantados,
atrasados e certos
distribuem entre os homens de mil nomes...
Deus esperando,
experimentando,
observando de cima,
para ver o que fazemos com tudo...

Belo Horizonte, 13 de outubro de 1984.

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.