A parte que me toca...

Euna Britto de Oliveira

Se a voz da vida é cariciosa,
Tudo fica cor-de-rosa.
Mas se a voz da vida grita,
Assusta, intimida, agita!...
A esta hora da madrugada,
Onde ela se escondeu,
Onde foi parar a inspiração que me entrega a poesia?
Quando voltar a me encontrar,
Pela primeira palavra que me trouxer, puxarei o fio da meada...
Outras palavras seguirão a primeira,
Como uma ovelha segue as outras,
Rebanho de cordeiros soltos no pasto da minha imaginação...
Brancas, tosquiadas, bem cuidadas,
Sem os erros de ortografia
Que lhes foram aparados,
As palavras, que me ensinaram um dia...

Chega a primeira palavra,
Assenta-se sobre uma pedra.
Reconheço-a!
Está molhada de chuva,
Andou por terras estranhas,
Esteve no céu e no mar,
Viu a paz e viu a guerra,
Vive a vida e viu a morte.
É uma palavra excelente!
Não posso dizer o nome
Que se confundiria com veneno.
E mais não posso dizer
Porque ela é minha senha
No banco desse jardim
Onde credito meus sonhos
E orvalho-os com gotas de sim!...

Buliçosas, as palavras organizam-se por afinidade.
Querem se dar as mãos,
Querem brincar de roda...
Estão alegres, porque se encontram no amor!
No corredor do caderno,
Desenham o beijo mais terno,
Acarinham-me...
Palavras, palavras, palavras...
Rascunho de minhas emoções,
Minhas paixões desidratadas,
Milhas de voos registrados,
Poções mágicas
Feitas de restos de relâmpagos,
Raios de sol de verão
E marcas de olhares na lua...
Faróis humanos acesos
Na neblina densa e fria!...
A parte que me toca
Na agonia e na alegria...

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.