Um ponto pardo numa areia parda...

Euna Britto de Oliveira

Esgoto-me em impotências...
Se não consigo acrescentar nem um minuto, nem um segundo
À extensão dos meus dias,
O que penso que posso,
Não sou eu que posso,
Mas Ele, que pode em mim!
O amor que transcende o desejo de posse é elevadíssimo!
Chegarei a experimentá-lo?...
Com um estalar de dedos,
Deus me chama
E eu olho para os lados, para cima,
Para dentro de mim mesma,
Que é onde Ele mora
Ou deseja morar, se eu deixar!...
Ele deu o livre-arbítrio, e não força nada.
Ele mesmo não precisa olhar para cima
E talvez nem possa,
Está no alto mais alto!
Acima d´Ele,
Não há nada, nada existe.
Aliás, há Ele, infinito,
Eternamente...
Ele me vê!
Como um ponto pardo numa areia parda...
Perdida na praia...
Perto de mim, uma colherinha de prata que empreteceu por desuso,
Em contato com o ar, oxidou-se.
A boca fala da abundância do coração.
Desesperadamente amarelo,
O ipê espera que lhe tirem fotos.
Estou sem a câmera,
Memorizo-o.
A menininha de gesso da decoração da piscina,
Que trazia uma cesta de uvas nas mãos,
Envelheceu sem deixar de ser menina.
Descascadinha, dá-me vontade de restaurá-la!...
Se eu, que sou eu, sinto essa vontade benfazeja
Em relação a uma escultura,
Quem ousa dizer que Deus não quer restaurar suas criaturas?...

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.