Colo

Euna Britto de Oliveira

Eu era jovem e mais nada.
Minhas férias de moça na fazenda
eram bastante isoladas!
Não havia estrada de carro, nem telefone, nem televisão,
porque esses avanços chegaram depois.
Passava o trem do outro lado do rio,
eu escrevia cartas e não gostava de rádio.
No fundo da casa, mais para o lado esquerdo,
exatamente como um de meus peitos fica sobre meu coração
quando estou deitada,
havia um montículo de terra
do tamanho do que poderia muito bem ser uma montanha
do asteróide do Pequeno Príncipe...
Era detrás dele que eu me escondia, para chorar,
quando o nível dos hormônios subia,
ou baixava, não sei,
quando o isolamento apertava!...
Havia minha família, meus pais, meus irmãos,
a empregada, alguns trabalhadores,
mas por lá não havia colegas, nem festas,
nem piscinas cheias de gente, nem namoradinhos para me alegrar!
Os meninos, meus irmãos, diziam que era o “murundu de Ninha chorar”...
Ninha era meu apelido, jeito carinhoso com que me chamavam.
Agora, estou pensando: Meus pais não existem mais.


Será que aquele murundu que já foi meu ainda existe?
Os homens gostam tanto de terraplanagens, de aterrar e desaterrar...
Ele tem me feito falta pela vida afora...
Era muito confortável chegar e me assentar junto dele,
como se senta junto de um amigo ,
e deixar fluir os sentimentos,
enquanto eu me disfarçava,
quebrando algum gravetinho,
espatifando alguma folha,
vigiando algum inseto,
alisando a terra com os dedos...
Ou simplesmente tentando perfurar as árvores
com olhar abstrato, para avistar o horizonte!
O horizonte intangível...
A ansiedade, se não passava,
baixava...
Era tão sem protocolo aquele colo!...

Ilustração: Uma foto na fazenda, aos 17 anos...

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.