Imaginário

Euna Britto de Oliveira

A fácil ferida recobra-se ao amanhecer
E eu vejo gotas de sangue
Pendurando a saúde na filha do rei...
Quisera poder recontar a vida repensada
E repassada
De capuchos de algodão...
Há mais de um mês estou indecisa,
Há mais de um ano,
Há mais de uma vida...
Se fosse médica, seria para curar o quê?
O corpo que preciso curar não se vê.

O que foi feito do ovo azul
De anu-preto
Que ganhei na minha infância?...

Fiz mamadeira de feltro
Para não conter o leite inexistente.
É imaginário o amanhã
Tanto quanto o ontem.
Ninguém escapa da avalanche dos séculos
Entretanto, os homens lutam por uma vida melhor,
Mesmo sabendo que aqui é só por uns tempos,
Como nos acampamentos...

Uma pomba fogo-pagou repete,
Ao alcance dos meus ouvidos,
A sua frase ancestral:
— “Fogo-pagou! Fogo-pagou!...”
De vez em quando, assusta-me!
Sensibilidade a postos,
Ausculto meu próprio coração.
Tenho algumas coisas boas,
Inclusive a coragem de me expor à vida,
Sabendo que a vida também traz morte,
Morte do dragão que cospe fogo,
Morte de um bonito sentimento
Do qual zelei com fralda e talco...
Forma um quadro bonito
A moça nova em casa velha,
Perto da rodoviária.
Do viaduto, eu a avisto,
Vestida de alegre, arrumando-se!...

Quando você partiu,
Os girassóis do retrato
Ainda eram sementes...

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.