Na praia

Euna Britto de Oliveira

Hoje, exercitei aquele meu lado que teve de nadar apressadamente para chegar primeiro!...
Manhã de sábado, 15 de janeiro de 2.000.
Fui à praia e nadei horas a fio...
Alongando os braços e impulsionando o corpo,
fiz aquele mesmo esforço original da vida,
que lembra a corrida de uma vírgula para alcançar um ponto,
por uma fração de segundo formar ponto e vírgula,
e fundir-se em ponto final,
descartando as reticências...
Uma vírgula solta em água de sal... atrás de um ponto de sol,
o que todos nós fomos um dia,
o jeito que todos nós começamos...
Dessa vez, eu não queria disputar lugar nenhum,
só queria mesmo mergulhar em mim,
em meu princípio, em meu meio, em meu fim...
E me trazer de volta a mim!

Várias vezes fui e voltei.
Observei os limites e os veranistas.
Só vou até onde pode, onde avisto gente.
Sob o olhar apreensivo da família,
um homem perseguiu uma bóia que o vento levou para longe...
Nadou até se cansar, mas alcançou a bóia!
Eu, em seu lugar, teria deixado aquela bóia pra lá!...

Essa praia existe há milênios e muito provavelmente continuará existindo por outros tantos milênios...
Desse mesmo jeito ou quase...
Tantos vivem no mar, tantos morrem no mar,
tantos vivem e morrem sem conhecer o mar!...
Isso que eu gozo agora é só uma horinha na imensidade do tempo...
Essa areia em que eu piso agora é só uma poeirinha
na pálpebra do azul do mar...
Aqueles de quem eu gosto e não estão aqui,
transporto-os para a praia em meu pensamento,
e têm grande chance de se banhar em breve nesse mesmo mar,
nesse imenso, inacabável, ativo, altivo, repetitivo, convidativo,
bem dotado e amado mar!...

O que não é água neste mundo,
a água há-de molhar!...
O que não é água neste mundo?
Meus olhos, que começam a marejar...
Só porque vocês não estão lá...

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.