Quem sabe?

Euna Britto de Oliveira

Que bom seria
Se você ainda fosse índio!
Contaminou-se com o branco
Contaminou-se comigo.
E agora, o que vamos fazer?
Nem na terra, nem no céu,
Como uma calça “pega-frango”
Que vai só até o meio da perna...
E agora?
Tenho saudades da aldeia
Do rio, dos peixes, do povo nu, eu no meio,
Do alimento cru, das camas feitas no chão
Eu perto do seu coração!
Os idosos respeitados
As crianças todas amadas...
Tenho saudades do que você me sugere
Mas nunca tive nem fui.

Fomos dragados pela civilização
Que, por sua vez, foi drogada...
Estamos sem solução, nós e nossos filhos.
A não ser que um índio velho
De cocar de plumas
E as mãos lavadas
Em água de sal e espumas
Um velho cacique e guerreiro
Passado por muitas provas
Por amor de um parentesco
Que vai longe em nossas veias
Nos tome pela mão e nos guie
Através de íngremes caminhos
Até chegarmos lá,
Ao descampado
Ao destapado
Onde possamos de novo
Pertencer à terra
E viver pequenos e ingênuos mas livres
Embora desconfiados
Entre árvores e coragens
Fechados na pele vermelha
Sem peias
Trançadores de redes e esteiras
Donos de fogueiras e estrelas...


Se um índio velho, parente, transparente
Nos tomasse pela mão...
Quem sabe?...
Quem sabe, haveria solução?

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.