Refresco

Euna Britto de Oliveira

Os pássaros-pretos são bons de assobio
Mas roubam o ninho dos tico-ticos,
Espezinhando e expulsando os ovinhos
Do cantinho deles...
Os pardais são uns dos pássaros mais baratos do ar.
Quem compra pardal?
E garrincha?
E andorinha?
E joão-de-barro?...
Arapongas, sabiás, canários, sim!
Mas gosto de todos.
Gosto de tudo que voa, inclusive de avião.
Menos de carcará,
Menos de gavião,
Porque já vi um levando um pintinho
De nosso quintal,
Que piava, piava...
Piava cada vez mais longe... nas garras dele!
Até hoje eu quero salvar aquele pintinho
E não consigo.
Já vai longe!...
Também, pra que lembrar coisa triste?

Eram os ninhos dos guaxes que eu avistava,
Dependurados nas árvorezinhas da ilha
Que confrontava com nossa casa,
Lá na fazenda...

Ar fresco da minha memória,
Refresco da minha história,
Afresco...

Entre a casa e a ilha,
Um braço do rio Mucuri,
Que me abraçava na hora do banho.
Na margem do rio, barrancos e acessos.
Em seu leito havia pedras
Lajedos
Em que se alojavam cascudos
E onde um cágado costumava se arrastar debaixo d´água...
— Uiii!
Dizem que cágado morde.
Não sei.
Nunca deixei!
Eu nadava e o braço do rio me sustentava
E me livrava do cágado.
Com aquela força,
Com aquele agrado,
Garanto que aquele rio era homem!
Mas se o banhista era homem,
A água virava mulher,
E ria... ria...
Entre uma pedra
E outra
Expandia-se em corredeiras vadias...

Muitas vezes, só os peixes e os pássaros assistiam
Ao meu nado solitário, destemido e necessário,
Ao sol da tarde.
Outras vezes, ela ia comigo,
Só para me acompanhar com o olhar...
Nosso porto era seguro.
— “A melhor hora para o banho no rio
É às cinco horas da tarde, minha filha” – ela dizia.

De meus quatorze aos dezenove anos,
Nas férias do colégio,
Na fazenda.
Nesse tempo, eu tinha mãe...

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.