DESPEDIDA (HOMENAGEM A LILITCHKA DE VLADIMIR MAIAKOVSKI)

Sigmar Montemor

Já que vais
Leva um pouco de mim
Para tuas luas cheias
Para um céu cor de rosa
E um sol poente

Já que vais mesmo
Leva um pouco de mim
Para quando ouvires
Os agudos acordes
De um soul blues

Quando uma criança
Derramar uma lágrima de dor
Lembra o quanto
Eu as amava
E o quanto abdiquei
Por elas

Já que vais
Deixa-me atapetar
Teu caminho
Teus últimos passos
Como pétalas...
E leva meu perfume
Em teus pés...
E toda
A minha maciez....

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Ilustração: Foto do grande poeta russo, Vladimir Maiakovski
(1885 - 1922)
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Lilitchka!

Vladimir Maiakovski
Tradução de Haroldo de Campos

Fumo de tabaco roi o ar.
O quarto -
um capítulo do inferno de Krutchónikh.
Recorda -
atrás desta janela
pela primeira vez
apertei tuas mãos, atônito.
Hoje te sentas,
no coração - além.
Um dia mais
e me expulsarás,
talvez com zanga.
No teu "hall" escuro longamente o braço,
trêmulo, se recusa a entrar na manga.
Sairei correndo,
lançarei meu corpo à rua.
Transtornado,
tornado
louco pelo desespero.
Não o consintas,
meu amor,
meu bem,
digamos até logo agora.
De qualquer forma
o meu amor
- duro fardo por certo -
pesará sobre ti
onde quer que te encontres.
Deixa que o fel da mágoa ressentida
num último grito estronde.
Quando um boi está morto de trabalho
ele se vai
e se deita na água fria.
Afora o teu amor
para mim
não há mar,
e a dor do teu amor nem a lágrima alivia.
Quando o elefante cansado quer repouso
ele jaz como um rei na areia ardente.
Afora o teu amor
para mim
não há sol,
e eu não sei onde estás e com quem.
Se ela assim torturasse um poeta,
ele
trocaria sua amada por dinheiro e glória,
mas a mim
nenhum som me importa
afora o som do teu nome que eu adoro.
E não me lançarei no abismo,
e não beberei veneno,
e não poderei apertar na têmpora o gatilho.
Afora
o teu olhar
nenhuma lâmina me atrai com seu brilho.
Amanhã esquecerás
que eu te pus num pedestal,
que incendiei de amor uma alma livre,
e os dias vãos - rodopiante carnaval -
dispersarão as folhas dos meus livros...
Acaso as folhas secas destes versos
far-te-ão parar,
respiração opressa?
Deixa-me ao menos
arrelvar numa última carícia
teu passo que se apressa.



26 de maio de 1916. Petrogrado
Vladimir Maiakoviski

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.