DESOLAÇÃO

Paulo Nonato Passini

Estou desolado
Quando parei para ver o arco-íris,
Ravel me passou à frente
Roubou-me a idéia
E fez o bolero!
De outra feita,
Fiquei estático admirando o ipê florido
E Chico Buarque me antecipou,
E eu não fiz a banda passar.
Antes Noel já havia me vencido
Com o poder de seu feitiço na vila
E eu estatelado assistindo à dança do beija-flor.
Eu vi primeiro a derrubada
Do casarão assobradado
Mas Adoniran tomou para si o samba da maloca,
Enquanto eu ouvia o canto da cachoeira.
Fui craque no jogo de botões
Amei a professorinha,
Mas Ataulfo foi mais feliz
E me arrebatou a Mariazinha;
E eu abobado espreitando os relâmpagos no céu!
Era para ser tudo meu:
Canções, boleros, marchas, sambas e chorinhos,
Pixinguinha, coitado, seria um anônimo.
Eu, estátua na praça,
Nome nos jornais,
Discos disputados,
Fama!
Mas ainda hoje perco meu tempo
Cuidando de flores!

(Sonhador)

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.