AOS POUCOS

Lúcio Alves de Barros

Aos poucos ela depositou sua pousada
devagar seguiu caminhos pouco trilhados
acomodou-se onde não devia
e lentamente produziu veneno.

Aos poucos ela foi arrancando voz e usurpando a arte da comunicação
sacudiu e desequilibrou nervos
sugou energias e secou a pele
intoxicou cabelos e forjou mal-estar

Aos poucos uma luta tácita teve início
talheres foram separados, toalhas divididas, camas repartidas
a coragem e a fé cederam lugar ao medo, a emoção em descontrole e a oração diletante
Deus foi convocado para a guerra.

Aos poucos a batalha foi intensificada
muitos foram convidados, poucos compareceram
a inimiga, antes velada e covarde, deixou pistas e imagens
era tarde para Deus, para os bajuladores, amigos e falsos homens de branco
que se acovardaram no andar frio da infantaria
a artilharia da saúde, a cavalaria da fé e a inteligência
antes vigorosa dos generais cederam aos inteligentes,
perversos e sádicos ataques da inimiga.

Aos poucos ela se alojou
fez sua casa e ramificações
estudou os passos da inimiga e preparou a investida
sugou a seiva da liberdade, do belo e da mansidão.

Aos poucos, cinicamente, silenciosamente e amargamente roubou o brilho da vida
enganou Deus, aos santos, a mim, a ela.
escondida, secou a alma, destruiu o corpo,
calou as orações e desconfigurou os fortes e lindos traços do rosto.

Com dor, forjou lutas químicas
avançou no terreno sorrateiramente e atingiu pelotões avançados
macabra, leviana e bem aparelhada jogou veneno e bombas de desespero aos que estavam por perto
não respeitou direitos, seguiu maltratando, torturando e queimando inimigos

Aos poucos ela foi cedendo
perdendo esperanças e forças
sentiu remorso, culpa, amor e saudade
atormentada sofreu e, lentamente, cansou

Aos poucos pediu pela vida
aos poucos perdeu a resistência e, com escassas palavras, buscou a despedida
aos poucos ela venceu e ela fechou os belos, profundos e brilhantes olhos.
aos poucos... ela se foi...

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Outubro de 2005

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.